quinta-feira, 2 de abril de 2020


PANDEMIA DE ELA


Oi amigos e amigas dos portadores da ELA! Ao ler o título alguns de vocês devem ter tomado um susto, não é mesmo? Principalmente, por estarmos vivendo uma pandemia de Corona vírus, família que sofreu mutação surgindo o mais falado COVID-19.   Mas já imaginaram uma pandemia de ELA? Misericooooodia. Mas na mensagem de hoje gostaria de compartilhar com vocês a epidemiologia da ELA. Vamos lá?

Segundo nosso amigo Wikepédia epidemiologia vem do grego. epi "sobre" demos "povo" logos "estudo". É a ciência das epidemias, que estuda quantitativamente a distribuição dos fenômenos de saúde/doença, e seus fatores condicionantes e determinantes, nas populações humanas. Pois bem, apesar da ELA ou melhor da esclerose lateral amiotrófica, mais conhecida como ELA, seja considerada uma doença rara, onde cerca de dois casos para 100.000 pessoas/ano, ela representa um grande impacto pessoal e socioeconômico para o indivíduo e para a sociedade.

Assumindo-se que uma família completa se constitui de três gerações, e que cada indivíduo tem dois filhos, e que o período de cada geração é de 20 anos, calcula-se que um em cada 200 indivíduos tenha um membro familiar afetado pela ELA. Há maior prevalência da doença na ilha de Guam em Nova Guiné Ocidental na península do Kii no Japão.

Sob uma forma mais geral, no estudo da ELA verifica-se que o sexo masculino é mais comprometido que o feminino em uma proporção de 3:2 e os brancos são mais afetados que os negros, com média de idade do início aos 57 anos, um pouco mais precoce nos homens. Cerca de 10% dos casos afetados são pessoas com menos de 40 anos. A forma esporádica (sem contexto familiar ou hereditário) é a forma mais comum desta doença, contabilizando cerca de 90% dos casos, apesar da ideia atual referente à maior prevalência crescente de casos familiares.

A média de sobrevida dos pacientes após o início dos sintomas é de dois a cinco anos. Tal média vem se contradizendo quando observamos portadores que vivem anos com essa doença o mais conhecido mundialmente Stephen William Hawking, cientista do espaço, que viveu 55 anos com a ELA.  A evolução dessa doença leva o envolvimento bulbar (Paralisia Bulbar Progressiva ou na ELA de início bulbar) a sobrevida é menor, variando de seis meses a três anos, devido à ocorrência mais precoce das complicações respiratórias da doença.

A descoberta da íntima relação entre processo de morte do neurônio e ação do glutamato (processo de neuroexcitotoxicidade), especulou-se que os Chamorros poderiam estar expostos a algum agente neurotóxico. Por muitos anos, imputou-se à farinha rica em Cycad a causa deste complexo clínico. Cycad, proveniente de uma palmeira regional, é rico em beta–metil–amino- –L–alanina (BMAA), um potente aminoácido excitotóxico. BMAA lesiona córtex motor de cérebro de macacos e os Chamorros usam a farinha com Cycad para fazerem tortilhas. Entretanto, o costume de lavar a farinha em água, processo que remove BMAA, não permitia relacionar com precisão as tortilhas com o comprometimento neurológico dos Chamorros, moradores da ilha de Guam.

Mais recentemente, demonstrou-se uma relação íntima nesta população entre hábito alimentar e desenvolvimento de ELA: ingesta de “flying fox”, uma espécie de morcego com aspecto facial de raposa.


A análise de BMAA neste morcego demonstrou a presença muito elevada
de BMAA. Este aminoácido excitatório cruza barreira hematoencefálica e também se mostrou aumentado no cérebro de seis pacientes com o complexo ELA/ Parkinson/Demência.


A origem do BMAA encontra-se nas cianobactérias que vivem em simbiose com os frutos de plantas, que por sua vez são fonte nutricional para os “flying-fox”. Demonstra-se, assim, uma associação entre uma neurotoxina presente no meio ambiente e um comprometimento cerebral onde ELA é uma característica dominante.

Interessante o estudo da epidemiologia da ELA, não é mesmo? E por que não estudar sobre a epidemiologia do Corona vírus, já que estamos em isolamento social? Seria um bom passa tempo. Até quinta com ELA. Enquanto isso, se cuidem.


Fonte:


Livreto Informativo ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica. Atualização 2018. São Paulo, 2018. 90 p.



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