quinta-feira, 29 de agosto de 2019




Oi, amigos dos portadores da ELA! A mensagem de hoje é do próprio professor Wellington Silva portador da esclerose lateral amiotrófica. No dia 24 deste mês ele completou um ano em que foi diagnosticado com a ELA. Segue mensagem.

Receber o diagnóstico de uma doença devastadora que a medicina ainda não encontrou a cura é terrível para qualquer paciente bem como os seus familiares. Uma sensação horrível de impotência toma conta da gente expondo toda fragilidade da natureza humana. É o que acontece com a Esclerose Lateral Amiotrófica.

Desde o final de 2016 quando comecei a ter problemas de equilíbrio e caminhar de forma claudicante percebi que havia algo errado. No início achei que não fosse grave e por isso posterguei a minha ida ao médico.

 Dia 24 de agosto de 2018


 Finalmente, no dia 24 de agosto de 2018 depois de realizar vários exames, eu fiquei sabendo pelo neurologista que estava com Esclerose Lateral Amiotrófica, mais conhecida como ELA, uma doença degenerativa e sem cura.

Os primeiros três meses após o diagnóstico foram os piores da minha vida pois eu não conseguia fazer outra coisa a não ser chorar. Havia acabado de completar 52 anos e ainda com muitos sonhos para realizar. Desde então procuro encontrar sentido a fim de passar o tempo que me resta lutando com os incômodos trazidos por essa estranha doença.

Essas são as primeiras linhas que escrevo na tentativa de traduzir em palavras as emoções e o aprendizado que tenho adquirido ao longo desses últimos meses.  Como geneticista, eu poderia falar sobre a fisiopatologia, o mecanismo de herança e o tratamento da doença, mas gostaria de falar das maiores lições que eu tenho aprendido e algumas dicas que considero importantes.

O que vou dizer agora não é apenas o resultado de minhas próprias reflexões, mas o que também aprendi com a experiência de outras pessoas que passam por esse mesmo problema. Então vamos lá.

Nós só temos o hoje


Talvez a maior lição que aprendi é aquilo que a gente sabe, mas raramente lembra de colocar em prática. NÓS SÓ TEMOS O HOJE. Sei que posso estar chovendo no molhado, mas para mim essa foi a maior das descobertas que a ELA me trouxe.

Sou uma pessoa muito ansiosa, sempre pensando no futuro. Graças a ELA estou aprendendo a viver um dia de cada vez sem me preocupar em fazer tantos planos para o futuro. 

Viagem dos sonhos


Há muito tempo atrás, eu e minha esposa planejamos fazer uma viagem quando fizéssemos 25 anos de casados, mas por diversos motivos acabamos  adiando e os vinte e cinco anos se transformaram em trinta. “Felizmente” graças a ELA, logo depois do diagnóstico começamos a rever  nossas prioridades e conseguimos fazer a nossa tão sonhada viagem.


                      
Minha amada

      
                                                        Minha família

Valorizar as coisas mais importantes


Outra grande lição é de que nós APRENDEMOS A VALORIZAR AS COISAS MAIS IMPORTANTES E, PRINCIPALMENTE, AS PESSOAS. Sempre procurei estar presente na vida da minha família mas hoje o desejo de estar perto dela é maior do que antes.

Passar tempo com pessoas que eu amo é muito mais terapêutico do que o riluzol que tenho que tomar duas vezes por dia.

               
Amigos

    
 Família 

Escola Bahiana de Medicina de Salvador


 Quero destacar a importância de uma rede de apoio multiprofissional onde a gente se sente acolhido e bem cuidado. Quem tem ELA sabe que esta é uma doença que demanda muitos recursos financeiros e felizes são aqueles que recebem apoio profissional especializado de centros de referência como o Laboratório de Doenças Neuromusculares da Escola Bahiana de Medicina em Salvador.




Outra coisa importante é manter a fé.  Eu tenho seguido o conselho de um paciente com ELA dizendo para gente nunca perder a fé, quer seja em Deus, quer seja na ciência. Pode parecer irrelevante para os mais céticos, mas acredito que isso irá nos ajudar a enfrentar as limitações impostas pela doença.

Confesso que este é um desafio para mim, mas pertencer à uma comunidade de fé tem sido de grande valia. Sinto-me confortado  em saber que existem pessoas que oram por mim mesmo quando estou fraco.

O importante é manter os pensamentos catastróficos longe da nossa mente e ter uma atitude positiva em relação à vida. A psicoterapia tem me ajudado nesse aspecto e ler um bom livro, assistir um bom filme também ajudam.

Esperança


Para finalizar, quero compartilhar o pensamento de uma escritora americana chamada Ellen White sobre esperança. “Nada temos a temer quanto ao futuro a menos que nos esqueçamos como Deus tem nos conduzido no passado.” Manter a fé e a esperança pode ser o segredo para vivermos uma vida com ELA e feliz. Até quinta com ELA.  

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